Rio Barcelos

Rio Barcelos

segunda-feira, 14 de maio de 2012


Fragmento de "uma coisa" que estou escrevendo; tomara que vingue.
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Eugênia, depois que percebeu que o marido havia saído, levantou-se, pois não estava com sono. Pegou o candeeiro pendurado em uma viga da casa e o colocou sobre a mesa, assim poderia ler o Almanaque Capivarol, exemplar que lhe dera seu João Celi, quando ela fora à vila comprar remédio para cólica. Era a única coisa que tinha para ler naquela casa. Havia uns casos e piadas engraçados na revista. Já os lera todos, mesmo assim sentia certo prazer em voltar à leitura, como se fosse a primeira vez. Sabia tudo de cor, mas havia um engenho na leitora que fazia com que a cada nova leitura brotasse da história algo novo. Ou como se a pessoa que estava lendo já fosse outra. Assim Eugênia se pôs a folhear a revistinha. E parou num caso conhecido. Ao terminar a leitura, estava emocionada, como se todos os problemas do seu mundo real tivessem deixado de existir. Naquele momento, só ela e a leitura. Desviou os olhos do almanaque e olhou a parede à sua frente. Agora uma outra história, também já vivida e repetida por Eugênia, saltou dos seus olhos e foi se desenrolar na parede. Ela era a espectadora. A luz amarela e trêmula do candeeiro projetando e dando movimento às imagens na parede. Era uma história. E era uma história triste. A história de um amor proibido. O filme parou de repente. Eugênia apagou o candeeiro com um sopro forte e as imagens evadiram-se. O cenário do mundo escureceu. Bobinha! A história não para nunca. Ela é filha do tempo. Ela continua, mesmo no silêncio, mesmo na escuridão...
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